Umbra
GENERG
FOTÓGRAFO DE NATUREZA DO ANO – 2º PRÉMIO (ARTE FOTOGRÁFICA).
Domingo, 04 de Junho de
2022, 13h08m. O vento está recolhido, a dormitar uma sesta longa, algures
noutro canto da Terra. O sol, no seu zénite, irradia um calor sufocante, quase
irrespirável. Apenas algumas aves com deveres paternais esvoaçam de um lado
para o outro, em esforço, em busca de alimento para as suas crias. No telheiro
do quintal da minha casa, instalada na parede orientada a nascente, uma
caixa-ninho de madeira alberga cinco juvenis de chapim-azul, que no seu
interior, aguardam expectantes, as visitas regulares dos seus progenitores,
para lhes saciar a fome. Entre eles e eu –que estou sentado numa cadeira, com a máquina
fotográfica montada sobre um tripé, escondido por uma rede de malha camuflada -
inúmeras peças de roupa presas com molas
multicolores a vários fios estendidos, criam uma barreira policromática, apenas
rasgada por estreitas aberturas que me permitem visualizar o objeto que
pretendo fotografar. A ideia original que a minha mente formulou, era
fotografar estas aves na sua azáfama, naquele ambiente humanizado, e que, decididamente,
não incomodavam de forma alguma estes pequenos seres alados, mesmo quando o
vento soprava. O suor escorria abundantemente sobre a minha pele, colando-me a
roupa humedecida ao corpo, o que me levava em intervalos não mensuráveis, a retirar-me
do local e a dirigir-me até à cozinha, onde, uma garrafa de vinho verde branco,
fresquinho, esperava por mim. Ela, e alguns bocados de pão, queijo e chouriça. E
claro, também uma púcara de água.
Ao fim de quase seis
horas, e de muitas “chapas” tiradas, consegui o objetivo a que me propusera, e
na generalidade, os resultados agradaram-me. Foi então que na última meia de
luz, com o sol a aproximar-se do horizonte, as sombras, do poiso casual e das
aves, começaram a destacar-se na parede, germinando na minha mente, uma nova
visão que nasceu do acaso, gerando imagens impregnadas de minimalismo. E assim
foi, até que a luz do astro-rei deixasse de incidir sobre o local. Satisfeito, com
esta tarde bem passada, já no conforto do cadeirão da sala, visualizei as fotos
que tinha captado ao longo desta sessão fotográfica. Durante a manhã tinha
caída uma ligeira chuva, cujas gotículas fui captando em contraluz. Foi então,
que ao visualizá-las, num momento de inspiração, decidi fundi-las com as das
aves, criando algumas duplas exposições “in camera”, e, que levaram à conceção
desta imagem. Foi como um sonho que consegui tornar realidade, numa tarde de
domingo primaveril e colorida, que naquele momento, eu quis que se tornasse
cinzenta, levemente pluviosa, e com círculos de luz cintilantes. A fotografia
tem esta magia!