GENERG
FOTÓGRAFO DE NATUREZA DO ANO – 2º PRÉMIO (CATEGORIA RÉPTEIS E ANFÍBIOS).
Num final de tarde
escaldante, cuja cinza poeirenta se elevava no ar a cada passo que eu dava, numa
dessas poças, repleta de sapos-de-unha-negra, ainda em desenvolvimento, uns já
cadáveres, outros moribundos, com a pele desidratada e os olhos abertos a
fitarem a morte que inevitavelmente se aproximava, um jovem sapo-corredor,
recém-metamorfoseado, pouco maior do que uma unha do dedo mindinho humano, um afortunado,
caminhava com breves impulsos sobre os seus corpos, alheio ao sofrimento desta
cena trágica. Em anos normais, neste charco, a profundidade da água ainda seria
suficiente para permitir que milhares de girinos se desenvolvessem, deixassem o
precioso líquido, e se aventurassem em terra, sobre a forma de jovens anfíbios
de quatro patas. Mas desta vez, a natureza impiedosa, não lhes permitiu alcançar
esse estádio, esse desígnio final, que os levaria, também a eles, a deambularem
pelas areias gandaresas até chegar a hora de contribuírem para a perpetuação da
sua espécie, tal como o haviam feito os seus antepassados. Da minha parte,
assistir a este drama, foi uma dor de alma, profunda, sentida, ciente de que
pouco mais poderia fazer para além de transferir alguns dos poucos
sobreviventes para águas mais profundas. No final, restou-me ainda algum tempo
para captar este momento mórbido. Para a memória futura.
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